quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Quando o verbo flamejar não se cumpre...


Cena de Fogueira, do Alvenaria - foto: Toni Lima

Por Andréia Fábia

Confesso que nada entendo de rituais, mas que consigo “imageticamente” identificar elementos que o integram. E eis que da união dos elementos que compunham o cenário do espetáculo, Fogueira, idealizado e encenado pelo grupo Alvenaria, composto por atores oriundos da Escola de Teatro da UFBA – Universidade Federal da Bahia, propondo uma profusão de imagens sensoriais, sons e cheiros, pensei: "- É um ritual!"

Ao menos se propõe a ser um. Ao menos se inicia como tal, numa ciranda que eleva o feminino - através dos corpos das quatro atrizes que expressam pelo caminho dos dedos indicadores a criação de uma teia, que logo é construída com todo o corpo. Depois desta cena inicial acaba. O que acaba? Acaba a comunicação, a “liga” a concomitância entre os sujeitos a que se propõe um ritual. Acaba, o “teatro como arte do encontro”, proposto por Peter Brook.

Num instante que julguei quase final do espetáculo, que, aliás, não possui nada que indique que vai ter fim, a não ser a saída dos espectadores achei que a “liga” havia se reestabelecido, quando uma das atrizes inicia a batida de um ritmo conhecido (“ai, ai, ai, ai, aiaiaiaiai, em cima, embaixo, e puxa e vai”) que é acompanhado pelas palmas cadenciadas da plateia. Esse encontro dura menos de 5 minutos e mais uma vez me encontro como os olhares dos outros espectadores que demonstram ansiosos um novo convite a participar da comunhão, ou não também, de maneira clara, talvez.

"- Ok, não estamos no âmbito do rito e sim num espetáculo de teatro", pensei, quando comecei a experimentar a sensação de nulidade, de burrice aguda, por não compreender os caminhos propostos pela encenação, por não ir onde se propunha a ausência da dramaturgia. E foi neste lugar enquanto espectadora, experimentadora destas sensações de “não encontro” que fiquei durante todo o espetáculo, que se cria e recria na própria cena, e que se perde na fronteira que propõe entre o imaginário e o real, numa experimentação do uso da voz e do corpo, que deveria ser interessante e funcional para o todo, mas, que acaba indo contrariamente à comunicação.

Andréia Fábia é formada em Comunicação Social com ênfase em Publicidade e Propaganda pela UCSAL - Universidade Católica do Salvador, Licenciada em Teatro pela UFBA - Universidade Federal da Bahia. Atriz, professora de teatro e produtora cultural.

(Texto produzido como exercício para a oficina Cultura da Crítica, no âmbito do FILTE. Não posuui caráter valorativo).

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