quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Quando o feitiço vira contra o feiticeiro


Carol Kahro em Grand théâtre: pão e circo - foto: Divulgação

Por Eduardo Bruno

Desde o auge do marxismo, a concepção de poder, formas de dominação e controle da população, principalmente no que diz respeito ao proletariado, vem sendo discutido. Está presente no discurso marxista a ideia de separação da sociedade por classes, onde uma domina (burguesia) e a outra é dominada (proletariado), e essa dominante usa de diversos meios, dentre eles a mídia, para manipular a ideologia. É talvez com base nesse princípio de dominação burguesa, por meio da mídia, que o espetáculo baiano Grand théâtre: pão e circo vai se apoiar para construir sua narrativa dramática.

No palco, a atriz, diretora e autora Carol Kahro representa - com base no texto do francês Guy Debord, A sociedade do espetáculo- algumas histórias que têm como tema base o local da mídia dentro da sociedade contemporânea. Nas propostas da encenação e dramaturgia, fica claro o discurso de que as mídias interferem fortemente em nossas vidas. É através de uma afirmação continua e demasiada da total passividade das pessoas em relação às informações midiáticas, além da afirmação da manipulação da massa, que a peça parece caminhar para uma análise rasa e até pueril no que diz respeito à real relação entre mídias e sociedade na pós-modernidade.

Em quase todas as cenas os personagens, muito bem desenvolvidos pela atriz, mostram uma realidade na qual a mídia está sendo dominantemente, controladora e manipuladora de suas ações e reações. Será que em uma sociedade em que a mídia está cada vez mais diluída em vários meios, além da sua dissolução, seja por meio de rádios piratas, jornais alternativos ou até mesmo o YouTube, ainda cabe-nos falar de uma mídia dominante?

É nesse caminho da afirmação da passividade do espectador em relação aos meios de comunicação, principalmente a televisão, que o espetáculo aposta para falar sobre a necessidade de se repensar esse discurso hegemônico e espetacularizado. Realizando uma afirmação com base na sátira e na bufonaria, o espetáculo refaz o que ele mesmo quer colocar em cheque: O local catequizante da mídia.Na cena, a atriz acaba construindo um discurso que não permite ao publico discutir ou pensar de forma diferente ao que está ali exposto. Não permitindo, assim, que a obra seja um local de debate de concepções, mas sim um espaço de demonstração de uma ideia fixa e pouco variável a respeito da mídia dentro da sociedade. Por esse caminho, talvez, acidentalmente, a peça venhaa ser uma catequização, coisa essa tão questionada pela mesma.

Não tenho precisão quando foi à estreia do espetáculo, mas, com base nas imagens projetadas na cena, pode-se concluir que o espetáculo já está em cartaz por um tempo relativamente grande. Talvez seja exatamente por ter como tema as mídias tão voláteis que seu estado de performance deviria ser mantido, possibilitando sempre colocar em cheque se o discurso representado ainda está em ressonância com a sociedade atual. 


Eduardo Bruno é graduando em Licenciatura em Teatro pelo IFCE e Encenador do EmFoco Grupo de Teatro- Fortaleza/CE. eduardobfreitas@hotmail.com

(Texto produzido como exercício para a oficina Cultura da Crítica, no âmbito do FILTE. Não posuui caráter valorativo).

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