sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Um brinde a... Brindemos!


Parte do elenco do grupo [ph2] - foto: Eduardo Azevedo

Por Eduardo Bruno

A palavra ‘fluxo’, segundo o dicionário, significa “ato ou efeito de fluir, curso, corrente; abundância, grande quantidade de qualquer coisa em movimento contínuo”. Desde o momento que o espectador entrou na sala de teatro do Sesc Pelourinho, para assistir ao espetáculo Mantenha fora do alcance de crianças, do grupo [ph2]: Estado de Teatro, de São Paulo, é banhado por um fluxo continuo de informações que mechem com todos os sentidos do corpo. O que estar acontecendo no palco? É uma reunião de família? É uma festa, onde todos estão bêbados? Um manicômio? Ou nada que seja levantado para definir aquele encontro de pessoas é o bastante para as polissemias da obra?

Em um espetáculo onde a mimese estar longe de ser considerada como estética, fica, para o publico, o papel de preencher e criar seus significados para a obra. A peça que tem seu ritmo tão único parece a todo o momento trazer para a cena novas informações, o que põe em cheque qualquer tipo de discurso linear que se tente concluir. Se a ferramenta da lógica linear nos é roubada logo que a peça começa, cabe ao público começar a se embriagar pela grande quantidade de informações, e se possibilitar viver o fenômeno, sem necessariamente ter ao final dele um discurso fechado. Essa angústia parece ser a mesma que se passa nos corpos presentificados em cena, que a todo o momento realizam ações, danças, movimentos e falas.

A angústia dos corpos em cena nos é sentida, e só mesmo com uma dose de cachaça, bebida essa oferecida no meio do espetáculo, para nos ocasionar uma quebra de informações e junto a um bom samba, cantado ao vivo, brindarmos as angústias. Esse acontecimento nos desloca para dentro da peça de forma quase que física, mesmo que ainda continuemos sentados nas cadeiras e os atores em cima do palco. Em quanto à bebida é servida, o espetáculo continua a acontecer o que proporciona ao espectador a percepção de como essa ação é elemento integrante do que se passa no palco.

O espetáculo segue, em seu fluxo de informações, a mostrar as angústias presentes naqueles corpos histéricos, que necessitam falar algo, para melhorar os incômodos internos e externos. Mesmo que esse algo sejam trivialidades, desabafos ou até mesmos depoimentos cômicos, ele precisa ser dito e dividido com o mundo. Agora, todos nós somos parceiros que estão parcialmente dividindo suas angustias, mesmo que para disfarça-las, seja usada uma quebra trivial para perguntar ou falar sobre copos.

O público não está ali nem como convidado, nem como intruso, somos quase mais alguns objetos que presenteiam as vidas de pessoas, histéricas, ansiosas e em fluxo, pouco importando quais relações diretas elas têm. De forma ousada e, mais uma vez, em fluxo o espetáculo com texto de Nicole Oliveira e direção de Rodrigo Batista anuncia seu termino não terminado. É como se o tempo dado a nós para vermos aquelas pessoas tivessem acabado e não a peça, o que deixa a noção que tudo aquilo ainda estar acontecendo até agora.

Eduardo Bruno é graduando em Licenciatura em Teatro pelo IFCE e Encenador do EmFoco Grupo de Teatro- Fortaleza/CE. eduardobfreitas@hotmail.com

(Texto produzido como exercício para a oficina Cultura da Crítica, no âmbito do FILTE. Não posuui caráter valorativo).

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