quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Um diálogo de solidão

Okamoto em Agora e na hora... - foto: Jordana Barale



Por Polis Nunes


Ao se deparar com um formato não convencional destinado à plateia, o público de antemão já fica curioso para contemplar a proposta. Calmamente todos os espectadores são conduzidos aos lugares na plateia incomum ao passo que devem cuidar para não “agredir”, mesmo sem querer, o cenário estabelecido para a encenação.

O espetáculo Agora e na hora de nossa hora, solo do ator Eduardo Okamoto que integra a programação da 5ª Edição do FILTE BAHIA, demora para “pegar” o público e a encenação revela uma dramaturgia empobrecida que parece mais se tratar de um roteiro de ações, portanto fadado a não ser repetido na próxima sessão, do que um texto previamente estabelecido.

Ainda que a possibilidade esteja nas entrelinhas, um espetáculo solo atrai uma plateia mais exigente que dificilmente assume que está ali também para verificar se o intérprete segura a cena e convence com sua interpretação.

O ator está seguro, o corpo presente e vivo na representação, é forte e perspicaz, mas contraditoriamente por vezes parece não saber para onde conduzir, como se aguardasse por uma resposta dos interlocutores desconhecidos, o público, que não chega.

A plateia inquieta atrai o olhar desviando o foco para a recepção do espectador, a obra não adentra de vez e o público fica na porta sem querer entrar.

Os recursos técnicos são destaque no trabalho, o cenário simples e a iluminação precisa concebida por Marcelo Lazzaratto estão muito bem casados com o intérprete. No início a música que toca incomoda, mas parece pertencer ao conjunto de ações que pretendem provocar uma inquietação.

A história do enredo é interessante, um fato real que marcou o seu tempo (a chacina da Candelária, no Rio de Janeiro, em 1993) e até hoje é realidade nas cidades do Brasil. Crianças que vivem nas ruas e integram as pinturas do cotidiano urbano, de fato passam despercebidas pelas pessoas que correm 24 horas por dia.

O trabalho é bem cuidado, apresenta belas imagens que falam muito por si e o intérprete está submerso na encenação. Mas a peça não adentra o espectador e a narrativa indica mais de uma vez o que parece ser um fim que não chega.

Polis Nunes é Atriz, Licenciada em Artes Cênicas e Graduanda em Comunicação (Produção em Comunicação e Cultura) pela Universidade Federal da Bahia. Integrante do Grupo de Teatro Finos Trapos /BA. pnunesprodução@gmail.com  

(Texto produzido como exercício para a oficina Cultura da Crítica, no âmbito do FILTE. Não posuui caráter valorativo).

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